Língua é fundamentalmente um fenômeno oral. É portanto indispensável
desenvolver uma certa familiaridade com o idioma falado, e mais
especificamente, com a sua pronúncia, antes de se procurar dominar o idioma
escrito.
“The principle [speech before writing] applies even when the goal is
only to read” (Lado, 1964, p. 50).
A inversão desta sequência pode causar vícios de pronúncia resultantes
da incorreta interpretação fonética das letras. Principalmente no caso do
aprendizado de inglês, onde a correlação entre pronúncia e ortografia é
extremamente irregular e a interpretação oral da ortografia muito diferente do
português (veja contrastes de pronúncia), e cuja ortografia se caracteriza também pela
ausência total de indicadores de sílaba tônica, torna-se necessário priorizar e
antecipar o aprendizado oral.
Satisfeita esta condição ou não, o exercício de leitura em inglês deve
iniciar a partir de textos com
vocabulário reduzido, de preferência com uso moderado de expressões
idiomáticas, regionalismos, e palavras "difíceis" (de rara
ocorrência). Proximidade ao nível de conhecimento do aluno é pois uma condição
importante. Outro aspecto, também importante, é o grau de atratividade do
texto. O assunto, se possível, deve ser de alto interesse para o leitor. Não é
recomendável o uso constante do dicionário, e este, quando usado, deve de
preferência ser inglês - inglês. A atenção deve concentrar-se na idéia central,
mesmo que detalhes se percam, e o aluno deve evitar a prática da tradução. O
leitor deve habituar-se a buscar identificar sempre em primeiro lugar os
elementos essenciais da oração, ou seja, sujeito, verbo e complemento. A maior
dificuldade nem sempre é entender o significado das palavras, mas sua função
gramatical e consequentemente a estrutura
da frase.
O grau de dificuldade dos textos deve avançar gradativamente, e o aluno
deve procurar fazer da leitura um hábito frequente e permanente.
1. Find the
main elements of the sentence: subject and verb.
(Procure identificar os elementos essenciais da oração - o sujeito e o
verbo.)
O português se caracteriza por uma certa flexibilidade com relação ao
sujeito. Existem as figuras gramaticais do sujeito oculto, indeterminado e
inexistente, para justificar a ausência do sujeito. Mesmo quando não ausente, o
sujeito frequentemente aparece depois do verbo, e às vezes até no fim da frase
(ex: Ontem apareceu um vendedor lá no escritório).
O inglês é mais rígido: praticamente não existem frases sem sujeito e
ele aparece sempre antes do verbo em frases afirmativas e negativas. O sujeito
é sempre um nome próprio (ex: Paul
is my friend), um pronome (ex: He's my friend) ou um
substantivo (ex: The house is big).
Pode-se dizer que o pensamento em inglês se estrutura a partir do
sujeito; em seguida vêm o verbo, o complemento, e os adjuntos adverbiais. Para
uma boa interpretação de textos em inglês, não adianta reconhecer o vocabulário
apenas; é preciso compreender a estrutura, e para isso é de fundamental
importância a identificação do verbo e do sujeito.
2. Don’t
stumble on noun strings: read backwards.
(Não se atrapalhe com os
substantivos em cadeia. Leia-os de trás para frente.)
A ordem normal em português é substantivo – adjetivo (ex: casa
grande), enquanto que em inglês é o inverso (ex: big house). Além disto, qualquer substantivo em inglês é
potencialmente também um adjetivo, podendo ser usado como tal.
Exemplos:
brick house = casa de tijolos
vocabulary comprehension test
= teste de compreensão de vocabulário
health quality improvement
measures = medidas de melhoramento da qualidade da saúde
English vocabulary comprehension test = teste de compreensão de
vocabulário de inglês
Sempre que o aluno se defrontar com um aparente conjunto de substantivos
enfileirados, deve lê-los de trás para diante intercalando a preposição "de".
3. Be
careful with the suffix ...ing.
(Cuidado com o sufixo ...ing.)
O aluno principiante tende a interpretar o sufixo ...ing unicamente como gerúndio,
quando na maioria das vezes ele aparece como forma substantivada de verbo ou
ainda como adjetivo. Se a palavra terminada em ...ing for um substantivo, poderá figurar na frase como
sujeito, enquanto que se for um verbo no gerúndio, jamais poderá ser
interpretado como sujeito nem como complemento. Este é um detalhe que muito
frequentemente compromete seriamente o entendimento.
gerund – |
Ex: We are planning to
... What are you doing? |
|
...ing |
noun – |
Ex: He likes fishing
and camping, and hates accounting. This apartment building
is new. |
adjective – |
Ex: This is interesting
and exciting to me. That was a frightening
explosion. |
4. Get
familiar with suffixes.
(Familiarize-se com os principais sufixos.)
A utilidade de se conhecer os principais sufixos e suas respectivas
regras de formação de palavras,
do ponto de vista daquele que
está desenvolvendo familiaridade com inglês, está no fato de que este
conhecimento permite a identificação da provável categoria gramatical mesmo
quando não se conhece a palavra no seu significado, o que é de grande utilidade
na interpretação de textos.
Vejam as regras de formação de palavras abaixo e seus respectivos
sufixos, com alguns exemplos:
SUBSTANTIVO
+ ...ful = ADJETIVO (significando full of …, having …)
SUBSTANTIVO + ...less = ADJETIVO
(significando without …)
SUBSTANTIVO |
...ful ADJETIVO |
...less ADJETIVO |
care (cuidado) |
careful (cuidadoso) |
careless (descuidado) |
beauty (beleza) |
beautiful (belo, bonito) |
- |
end (fim) |
- |
endless (interminável) |
SUBSTANTIVO
+ …hood = SUBSTANTIVO ABSTRATO (sufixo de baixa produtividade significando o
estado de ser). Há cerca de mil anos atrás, no período conhecido como Old
English, hood era uma palavra independente, com um significado amplo,
relacionado à pessoa, sua personalidade, sexo, nível social, condição. A
palavra ocorria em conjunto com outros substantivos para posteriormente, com o
passar dos séculos, se transformar num sufixo.
SUBSTANTIVO CONTÁVEL |
…hood
SUBSTANTIVO ABSTRATO |
adult (adulto) |
adulthood (maturidade) |
SUBSTANTIVO
+ …ship = SUBSTANTIVO ABSTRATO (sufixo de baixa produtividade significando o
estado de ser). A origem do sufixo _ship é uma história semelhante à do
sufixo _hood. Tratava-se de uma palavra independente na época do Old
English, relacionada a shape e que tinha o significado de criar, nomear.
Ao longo dos séculos aglutinou-se com o substantivo a que se referia adquirindo
o sentido de estado ou condição de ser tal coisa.
SUBSTANTIVO CONTÁVEL |
…ship
SUBSTANTIVO ABSTRATO |
citizen (cidadão) |
citizenship (cidadania) |
ADJETIVO + …ness
= SUBSTANTIVO ABSTRATO (significando o estado, a qualidade de).
ADJETIVO |
…ness
SUBSTANTIVO ABSTRATO |
dark (escuro) |
darkness (escuridão) |
ADJETIVO + …ity
= SUBSTANTIVO ABSTRATO (significando o mesmo que o anterior: o estado, a qualidade de;
equivalente ao sufixo ...idade do português). Uma vez que a origem deste
sufixo é o latim, as palavras a que se aplica são na grande maioria de origem
latina, mostrando uma grande semelhança com o português.
ADJETIVO |
…ity
SUBSTANTIVO ABSTRATO |
able (apto, que tem condições de) |
ability (habilidade, capacidade) |
VERBO + …tion
(…sion) = SUBSTANTIVO (sufixo de alta produtividade significando o estado, a ação ou a
instituição; equivalente ao sufixo ...ção do português). A origem deste
sufixo é o latim. Portanto, as palavras a que se aplica são na grande maioria
de origem latina, mostrando uma grande semelhança e equivalência com o
português.
VERBO |
...tion
SUBSTANTIVO |
accommodate (acomodar) |
accommodation (acomodação) |
cancel (cancelar) |
cancellation (cancelamento) |
define (definir) |
definition (definição) |
educate (educar, instruir) |
education (educação, instrução) |
form (formar) |
formation (formação) |
generalize (generalizar) |
generalization (generalização) |
humiliate (humilhar) |
humiliation (humilhado) |
identify (identificar) |
identification (identificação) |
justify (justificar, alinhar texto) |
justification (justificação, alinhamento de texto) |
legislate (legislar) |
legislation (legislação) |
menstruate (menstruar) |
menstruation (menstruação) |
nominate (escolher, eleger) |
nomination (escolha de um candidato) |
obligate (obrigar) |
obligation (obrigação) |
permit (permitir) |
permission (permissão) |
qualify (qualificar) |
qualification (qualificação) |
receive (receber) |
reception (recepção) |
salve (salvar) |
salvation (salvação) |
transform (transformar) |
transformation (transformação) |
VERBO + …er
= SUBSTANTIVO (significando o agente da ação; sufixo de alta produtividade).
VERBO |
...er
SUBSTANTIVO |
bank (banco) |
banker (banqueiro) |
VERBO + …able
(...ible) = ADJETIVO (o mesmo que o sufixo …ável ou …ível do português; sufixo
de alta produtividade). Sua origem é o sufixo _abilis do latim, que
significa capaz de, merecedor de.
VERBO |
…able
(...ible) ADJETIVO |
accept (aceitar) |
acceptable (aceitável) |
VERBO + …ive
(…ative) = ADJETIVO (o mesmo que o sufixo …tivo ou …ível do português; sufixo
de alta produtividade). Sua origem é o sufixo _ivus do latim, que
significa ter a capacidade de.
VERBO |
…ive
(…ative) ADJETIVO |
act (atuar) |
active (ativo) |
ADJETIVO + …ly
= ADVÉRBIO (o mesmo que o sufixo …mente do português; sufixo de alta
produtividade).
ADJETIVO |
…ly ADVÉRBIO |
actual (real) |
actually (de fato, na realidade) |
Veja uma lista mais completa de sufixos e prefixos em Word Formation (Morfologia - Formação de Palavras)
5. Don’t get
thrown off by prepositional verbs: look them up in a dictionary.
(Não se deixe enganar pelos verbos preposicionais.)
Os verbos preposicionais, também chamados de phrasal verbs ou two-word verbs, confundem porque a
adição da preposição normalmente altera substancialmente o sentido original do
verbo. Ex:
go - ir |
go off - disparar
(alarme) |
turn - virar, girar |
turn on - ligar |
put - colocar, botar |
put off -
cancelar, postergar |
6. Make sure
you understand the words of connection.
(Procure conhecer bem as principais palavras de conexão.)
Words of connection ou words of transition são conjunções, preposições, advérbios,
etc, que servem para estabelecer uma relação lógica entre frases e idéias.
Familiaridade com estas palavras é chave para o entendimento e a correta
interpretação de textos.
Este site disponibiliza um estudo completo sobre conectivos (articuladores)
em inglês e português, contendo 1224 exemplos de uso: http://www.sk.com.br/sk-conn.html
7. Be
careful with false friends.
(Cuidado com os falsos
conhecidos.)
Falsos conhecidos, também
chamados de falsos amigos, são palavras normalmente derivadas do latim, que têm
portanto a mesma origem e que aparecem em diferentes idiomas com ortografia
semelhante, mas que ao longo dos tempos acabaram adquirindo significados
diferentes.
8. Use
intuition, don’t be afraid of guesswork, and don’t rely too much on the
dictionary.
(Use sua intuição, não tenha medo de adivinhar significados, e não
dependa muito do dicionário.)
Para nós, brasileiros, a interpretação de textos é facilitada pela
semelhança no plano do vocabulário, uma vez que o português é uma língua latina
e o inglês possui cerca de 50% de seu vocabulário proveniente do latim. É principalmente
no vocabulário técnico e científico que aparecem as maiores semelhanças entre
as duas línguas, mas também no vocabulário cotidiano encontramos palavras que
nos são familiares. É certo que devemos cuidar com os falsos cognatos (veja
item anterior). Estes, entretanto, não chegam a representar 0,1% do vocabulário
de origem latina. Podemos portanto confiar na semelhança. Por exemplo: bicycle,
calendar, computer, dictionary, exam, important, intelligent, interesting,
manual, modern, necessary, pronunciation, student, supermarket, test,
vocabulary, etc., são palavras que brasileiros entendem sem saber nada de
inglês. Assim sendo, o aluno deve sempre estar atento para quaisquer
semelhanças. Se a palavra em inglês lembrar algo que conhecemos do português,
provavelmente tem o mesmo significado.
Leitura de textos mais extensos como jornais, revistas e principalmente livros é altamente recomendável para alunos de nível intermediário e avançado, pois desenvolve vocabulário e familiaridade com as características estruturais da gramática do idioma. A leitura, entretanto, torna-se inviável se o leitor prender-se ao hábito de consultar o dicionário para todas palavras cujo entendimento não é totalmente claro. O hábito salutar a ser desenvolvido é exatamente o oposto. Ou seja, concentrar-se na idéia central, ser imaginativo e perseverante, e adivinhar se necessário. Não deve o leitor desistir na primeira página por achar que nada entendeu. Deve, isto sim, prosseguir com insistência e curiosidade. A probabilidade é de que o entendimento aumente de forma surpreendente, à medida em que o leitor mergulha no conteúdo do texto.
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